Torpe,
1.
A mesa estava como há cinco dias, suja, com migalhas secas de pão, uma xícara com café e algumas formigas que se aproveitam do açúcar exagerado. As janelas, entre abertas, iluminavam parcialmente a cozinha ao amanhecer de mais um dia que aquela casa passava vazia. O único som que se tem é o do telefone que insistentemente toca, e vem tocando na mesma intensidade durante esses cinco dias.
No quarto, uma mala está em cima da cama, com algumas roupas já postas, outras ainda por arrumar. A esquerda da cama, no chão, um vaso está quebrado, algumas flores ainda vivem, vermelhas, junto a elas, vindo de baixo, uma fila de formigas que talvez sejam da mesma família daquelas que estavam no café.
Na verdade, há seis dias o telefone já tocava, não havia ninguém na casa. Helena chega mais cedo, com o rosto molhado. Uma forte chuva marcou aquele dia, além da disso, as lagrimas não paravam, o soluço insistia