quinta-feira, 28 de abril de 2011

Torpe, 1

Torpe,


1.

A mesa estava como há cinco dias, suja, com migalhas secas de pão, uma xícara com café e algumas formigas que se aproveitam do açúcar exagerado. As janelas, entre abertas, iluminavam parcialmente a cozinha ao amanhecer de mais um dia que aquela casa passava vazia. O único som que se tem é o do telefone que insistentemente toca, e vem tocando na mesma intensidade durante esses cinco dias.

No quarto, uma mala está em cima da cama, com algumas roupas já postas, outras ainda por arrumar. A esquerda da cama, no chão, um vaso está quebrado, algumas flores ainda vivem, vermelhas, junto a elas, vindo de baixo, uma fila de formigas que talvez sejam da mesma família daquelas que estavam no café.

Na verdade, há seis dias o telefone já tocava, não havia ninguém na casa. Helena chega mais cedo, com o rosto molhado. Uma forte chuva marcou aquele dia, além da disso, as lagrimas não paravam, o soluço insistia em continuar. Encharcada, vai até seu quarto e se joga na cama que ainda está com o cheiro das flores da noite passada. Algumas garrafas juntas a duas taças posavam ao seu lado. Helena não pára de chorar. O telefone toca mais uma vez, porém, ela não consegue levantar para atender, ou na verdade, ela nem sente estar ali.